Ciência com Impacto Podcast

PODCAST T4E6: Karim Erzini - SOS pela Ria Formosa

August 18, 2021 Ciência Com Impacto Season 4 Episode 6
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PODCAST T4E6: Karim Erzini - SOS pela Ria Formosa
Show Notes

A Ria Formosa, um dos mais importantes berçários de peixes do País, está em perigo. Estes são os dados de um estudo de longa duração levado a cabo pelo investigador Karim Erzino, do CCMar – Centro de Ciências do Mar, ligado à Universidade do Algarve. E alguns dessas espécies mais ameaçadas são de elevado valor comercial.

Ao longo dos anos, Karim e a sua equipa de investigadores identificaram 120 diferentes espécies de peixes na Ria Formosa. Destes, cerca de 40 espécies são residentes – passam toda a vida nas águas da Ria. As restantes 60 espécies usam os diferentes habitats da Formosa como berçário. Por norma, os adultos desovam no mar e, passada uma fase inicial pelágica larvar, os juvenis vêm para as estas águas calmas onde crescem e se desenvolvem - antes de regressarem ao mar aberto.  

A Ria Formosa é, pois, essencial para manter os stocks selvagens de espécies com valor comercial como os sargos, as douradas ou os robalos, entre tantas outras. A má notícia, confirmada pelas amostragens e pela monitorização de Karim Erzino, é que esses números estão a decrescer. O que coloca em causa a própria sustentabilidade da pesca local. 

Essa diminuição de produtividade está diretamente ligada à degradação dos habitats mais sensíveis da Ria Formosa, como sejam as pradarias marinhas. As dragagens, a sobrepesca de marisco ou do isco e a intensificação das atividades lúdicas a motor, tudo contribui para o agravar da situação. E este desaparecimento - e a regressão de vastas zonas de pradarias - acabam por acentuar o declínio da biodiversidade, seja de peixes ou de crustáceos.

Um outro estudo de longa duração de Karim Erzino está relacionado com o Parque Marinho Luis Saldanha, na península de Setúbal. E porque alguns dos problemas são idênticos aos identificados na Ria Formosa, este investigador pretende fomentar a recuperação de antigas zonas de pradaria marinha junto do Portinho da Arrábida, recorrendo ao transplante de ervas vindas das águas algarvias. É um processo lento e difícil, com ligeiros avanços e muito recuos. Mas que vai registando sucessos. A lição é que se torna mais fácil destruir do que construir. Um ensinamento para o futuro.